Como inscrever seu projeto de cinema ou TV em editais

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Seu projeto está idealizado, você já sabe o filme que quer fazer. Agora é a hora de inscrevê-lo em editais para alavancar a realização. Como adaptá-lo para passar por uma banca de seleção? 

Poder de síntese, consciência do projeto e compreensão das diferenças entre os campos ficcional e documental são o caminho das pedras da tão sonhada seleção em editais de financiamento e produção. A gente te conta mais a seguir.

Poder de síntese

Para fazer uma banca se interessar por seu projeto, é preciso transformá-lo num texto curto: um resumo que fica entre a logline e o roteiro em si. É uma sinopse. Para fazer um bom texto explicativo e ao mesmo tempo conciso, considere as questões abaixo:

  • Qual a história que você quer contar? Essa não precisa nem de explicação!
  • Qual sua motivação em realizar esse projeto? Empenho, paixão e uma ideia contagiante podem convencer até o jurado mais empedernido
  • Qual a importância do seu filme no momento histórico atual? Uma boa narrativa ganha muito mais relevância quando consegue traduzir um sentimento ou pensamento presente coletivamente na atualidade. 

Por exemplo, o filme Medusa (2021), de Anita Rocha da Silveira, parte da trama de garotas ultrarreligiosas e conservadoras assombradas pela lenda de uma mulher queimada para mostrar como o machismo é introjetado e replicado pelas próprias mulheres - até que elas decidam reagir contra. É um tema superatual, com o qual um grande público vai se identificar - e muitos jurados também.

Consciência do seu projeto

Para falar desses três itens, é preciso que você tenha clareza sobre o que o seu projeto quer dizer e como ele vai atingir o objetivo. Uma história bem contada traz sempre uma ideia de fundo, uma espécie de “moral da história”. 

Se você tiver os pontos anteriores bem fundamentados, sua sinopse vai ser mais impactante para a banca de seleção que o próprio roteiro do filme em si. Afinal, nessa fase, é muito comum que o roteiro esteja em processo.

Mesmo o filme mais engenhoso, como por exemplo, Holy Motors (2021), de Leos Carax, tem um tema que o conduz. Sua narrativa alucinante apresenta uma série de personagens surreais encontrando-se e se desencontrando em viagens de limusine. Acreditem: é um filme sobre a transitoriedade da vida e a relatividade das relações humanas diante da infinitude do tempo. De cair o queixo.

Diferença entre projeto ficcional e documental de autor

O roteiro é geralmente o ponto de partida para o filme de ficção. Ele traz o enredo, as personagens e o contexto da história por meio das falas e das ações mostradas nas cenas. É mais fácil saber exatamente a história que você vai contar. Portanto, também é muito mais fácil escrever um texto de apresentação para edital sobre esse projeto, já bem delineado.

No documentário autoral, a ordem dos fatores é outra. Não dá para prever de antemão as falas e ações de uma personagem real. O que será filmado é o depoimento de uma pessoa viva. No caso de um documentário histórico, com cenas de arquivo e narração em off, o roteiro também vem antes.

Portanto, em geral,  o roteiro de um projeto documental é definido na ilha de edição, quando já se tem o material todo em mãos e é possível desenhar mais claramente a trajetória da personagem. 

Ou seja, no documentário, nunca se sabe exatamente qual será o produto final do projeto. Por isso, o texto de inscrição de um documentário em edital é praticamente uma peça de ficção, ou uma carta de intenções que prevê o que se espera alcançar como produto final. Neste caso, é possível prever apenas algumas situações e propostas de gravação, bem como descrições do objeto a ser documentado (pessoas, temas, lugares, etc). 

As perguntas sobre história, motivação e importância histórica continuam valendo para compor esse texto. E a necessidade de conhecer bem seu projeto para empolgar o júri também, mesmo que ele venha a sofrer muitas transformações ao longo da realização.

Concluindo

Se os roteiros são a espinha dorsal do filme, que conferem sua estrutura e o fazem caminhar, seus resumos para editais são os olhos pelos quais a banca de seleção vai enxergar o projeto. 

Concisão, clareza de objetivos e a vontade de abarcar temas relevantes para o mundo de hoje são a chave para seu projeto ter chances reais de ser contemplado por um edital. Vale lembrar: perseverança nunca é demais. Se não passou em um edital, mas põe fé no seu projeto, não desista. Reformule, aprimore e siga tentando. Uma hora você encontra alguém que vai se encantar com a sua ideia. 

 

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