Carlos Nader fala da importância da personagem no roteiro documental

 

O roteiro de um documentário é igual ao de um filme ficcional? Qual a importância da personagem em sua construção? Quem responde a essas perguntas é o cineasta Carlos Nader (acima), um dos maiores documentaristas brasileiros da atualidade

Seus filmes, como: 

Pan-Cinema Permanente (2008, sobre o poeta tropicalista Waly Salomão), 

Homem Comum (2014) 

A Paixão de JL (2015, sobre o artista visual Leonilson, morto em decorrência da Aids em 1993) 

entre outros, ganharam três edições do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentário, além de festivais em Bruxelas, Tóquio e Havana, tendo sido exibidos ao redor do mundo. 

Ele é mestre Navega do curso Documentário Autoral, em que fala sobre o cinema documental a partir de sua experiência singular como criador e diretor. Entre os temas que Nader enfatiza para a realização de um documentário, a personagem tem lugar de destaque. 

Sendo um dos elementos básicos de qualquer narrativa, desde a literária até a teatral, a personagem é quem conduz o enredo. No documentário, seu papel é ainda mais fundamental. Carlos Nader explica por quê.

Primeiro a personagem, depois o roteiro

Nader explica que, ao contrário do cinema ficcional, num documentário autoral, a última coisa a ser feita é o roteiro. “Geralmente é na fase de montagem que o roteiro é criado, finalizado de fato. Pode-se levar três anos montando um documentário”, ele conta. 

Isso porque o documentário utiliza as personagens de uma maneira muito diferente do filme de ficção. A personagem documental que dá um depoimento ou é acompanhada pela equipe de filmagem fala o que pensa, age espontaneamente, não tem uma fala ou ação escrita num roteiro prévio.

A exceção é o documentário histórico, com cenas de arquivo e narração em off, caso em que o roteiro também é escrito antes da montagem.

Jornada do herói documental

Mas, assim como num filme de ficção, a personagem também conduz o enredo. Ainda mais no caso de Nader, que se considera um cineasta “relacional”, baseando seus filmes na sua relação com uma personagem ou tema.

De acordo com o cineasta, o filme documental autoral deve manter sua autonomia narrativa, como a ficcional. Assim, sua personagem também deve percorrer uma jornada de transformação, como num filme de ficção, mesmo que sua trajetória seja a expressão de um momento histórico ou da vida real. 

 

Entrevista e escuta 

Um recurso muito usado para extrair material das personagens de documentários é a entrevista. Na opinião de Nader, é preciso exercitar a escuta de maneira a deixar a personagem confortável para falar, mas também saber instigá-la.

Para ele, o mestre desse tipo de estratégia em entrevistas, com um dom imenso de escuta, foi o documentarista Eduardo Coutinho (acima), de Edifício Master (2002), O Fim e o Princípio (2006) e Jogo de Cena (2007), entre muitos outros filmes premiados.

 

 

Para saber mais

Quer saber mais sobre as técnicas e ideias de Nader sobre o gênero documental, partindo de sua experiência premiada e apaixonante? Venha fazer o curso Navega Documentário Autoral com Carlos Nader. Lá, você vai aprender pela visão privilegiada que o cineasta burilou ao longo de sua trajetória de sucesso. Inspire-se com o mestre e ingresse no cinema documental!