Qual a origem do Documentário na história no cinema?

O documentarista Carlos Nader conta um pouco da história do gênero documentário que muitos se esquecem e os debates que permanecem

Cena de "A Saída dos Operários da Fábrica Lumière" (1895) - Institut Lumière/Divulgação
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Quando nasce o documentário no cinema? Por quais peculiaridades o gênero passou como expressão artística no século 20? E por quais mudanças passou no século 21? Estas são algumas perguntas que Carlos Nader responde em seu curso online Documentário Autoral, que o Navega compartilha aqui com você.

O cinema nasce documentário

Os irmãos Lumière, inventores do cinematógrafo, não apontam a câmera do primeiro filme da história a um ator. É interessante observar que poderiam ter tido essa escolha, já que o teatro existia há milênios. Porém, os primeiros cineastas a apontam para a saída de operários de uma fábrica. Desse evento, nasce o cinema como documentário, fundado na apreensão de um mundo real e não imaginado. 

"A Chegada do Trem na Estação" (1896) evidencia que, desde os seus primórdios, o documentário mistura aquilo que é considerado real com aquilo que não é considerado real. A impressão que o público teve frente à imagem de um trem chegando na estação, o susto que levou de tão real que uma locomotiva parecia, provavelmente explicam em grande parte o sucesso dessa arte. Marcado por desacordos sobre o que é real e não é real, sobre é ficção e não é ficção, o questionamento da noção de verdade perpassa a história do documentário. 

 Trecho de "O Homem com a Câmera" (1929), de Dziga Vertov - Divulgação


O primeiro filme considerado documentário

"Nanook, o Esquimó" (1922) de Robert Flaherty é citado por Carlos Nader como exemplo de uma obra construída a partir de imagens “reais” mas encenadas. Desde quando foi considerado documentário, até hoje, o filme suscita debate sobre os limites do gênero. 

Ainda na história do documentário, Nader ressalta os movimentos Kino-Pravda, do soviético Dziga Vertov, Cinema Verité, de Jean Rouch e o Cinema Direto americano como principais correntes de um cinema em que a questão da verdade tem sido central através dos anos. Nader adere a esse questionamento ao citar Descartes e sua frase “Mascarado é que se vai adiante”,  lembrando que a origem da palavra “pessoa” é o latim persona, que quer dizer “máscara”. 

O documentarista defende a ideia de que não existe na vida um não atuar. Para Nader, o ser humano é um ser em permanente autoconstrução que age atuando no mundo em geral, não necessariamente em frente à câmera. Cabe ao documentarista, portanto, captar atuações. 

Do 20 para o 21

Nader acredita ainda que houve, no final do século passado, uma espécie de movimento não organizado do documentário em que um grupo de importantes realizadores, como Eduardo Coutinho, João M. Salles ou Sandra Kogut, passaram a fazer filmes que refletiam sobre o si próprio e por consequência sobre os limites do real. 

Perguntava-se, na época, o que motivava os documentaristas a voltar à questão do real e da verdade no cinema, sobretudo num país lotado de questões sociais a serem resolvidas. Hoje, no entanto, com a proliferação de fake news no mundo, e de um ponto de vista sociocultural, tal reflexão ganha um novo sentido.   

Qual a sua visão sobre isso? Compartilhe este texto nas redes sociais e amplie a discussão que, como vimos, é tão antiga quanto o próprio cinema. E se quiser saber mais, assista a uma aula gratuita do curso Documentário Autoral com Carlos Nader agora mesmo!